Da cama ao cume. A história do homem que desafiou o impossível
A mochila do Roman Romancini está quase sempre pronta para a próxima investida. Além de ótimos equipamentos, o otimismo sempre foi uma das principais ferramentas para seguir em frente. A vontade de ir além dos sonhos é tão grande que, às vezes, parece beirar a arrogância, mas é o jeitão dele mesmo, sempre positivo e dono de uma vontade contagiante. Não fosse isso, talvez o Roman nem estivesse mais aqui.
Ficamos amigos durante a escalada do monte Aconcágua, no inverno de 2004. É lógico que o Roman era o mais eufórico da expedição. Eu fiquei pelo caminho, mas me lembro bem da imagem do Roman, emocionado e falante no topo das Américas, com os cílios congelados.
Também estivemos juntos no Denali (monte McKinley, Alasca). A montanha mais alta da América do Norte. Dessa vez tive um pouco mais de sorte. Cheguei ao topo, e o Roman ficou a vinte metros do cume. Quase saiu voando de tão forte que era a tempestade.
Contudo, os ventos não foram muito favoráveis para o meu amigo nos anos seguintes, no que diz respeito ao lado esportivo. Foi atropelado quando pedalava na Floresta da Tijuca, colocou uma placa de titânio no fêmur, teve trombose durante a recuperação e, para completar o ciclo, câncer na tireoide. Pegou um médico pelo colarinho quando ouviu que não iria mais poder escalar. Ele queria o Everest, o topo do mundo, e ninguém seria capaz de impedi-lo.
Provou que estava de volta quando corremos juntos na Patagônia. Cem quilômetros de parceria e amizade. Depois disso, eu não tinha mais dúvidas, o Everest era só uma questão de tempo.
Esse é o Roman, enxerga luz nos momentos mais sombrios. O mundo dele é diferente, vibrante e imponente. Transforma um momento simples numa história fabulosa. Suas asas são enormes, desenvolveu o dom de voar para lugares que as pessoas normais talvez tenham dificuldade de enxergar e compreender.
(Clayton Conservani)
Autor
Brasiliense, formado em Física Pura e Aplicada pela UNICAMP, com MBA em Administração pelo IBMEC, Roman Romancini é um sonhador megalomaníaco. Embaixador das ONGs Pés Livres e World Adventure Society, e líder da Climate Reality. Com mais de 20 anos de experiência profissional, iniciou a carreira em um acelerador de partículas e morou em diversos países da América Latina, desenvolvendo startups. Passou por empresas como Embraer, Ericsson, Nokia, Oracle, Salesforce, e hoje é CEO da Mobicare/Akross. Apaixonado por esportes de endurance e pensamento disruptivo. Atleta amador e insubordinado desde criança, começou a subir montanhas em 1992 durante um intercâmbio na Califórnia. Algumas de suas principais façanhas: escalou 5 dos 7 maiores cumes de cada continente, sendo 4 no inverno; escalou em diversos países dos 6 continentes; foi o 18º brasileiro a alcançar o cume do Everest; primeiro brasileiro a escalar a icônica e desafiadora montanha Ama Dablam, no Nepal; integrou a primeira ascensão invernal brasileira do Aconcágua. Atualmente, divide seu tempo entre a paternidade, expedições, iniciativas audiovisuais e projetos sociais, motivacionais e “intrapreendedores” em grandes corporações.
Autor
Jornalista, documentarista e fotógrafo, Rafael Duarte explora e provoca reflexões em torno das conexões entre o ser humano e a natureza em seus trabalhos. É também autor dos livros Pão de Açúcar – monumento natural, RIO, Abrolhos – terra e mar (finalista do Prêmio Jabuti, 2017), Expedição Miramundos Estrada Real e do guia Trilha Transcarioca. Colaborou com veículos nacionais e internacionais, como National Geographic, VICE, O Globo, Go Outside, e expôs suas fotos em vários países, além de galerias e museus do Brasil. Mestre em Cinema e Audiovisual pela Université de Paris 1 – Panthéon Sorbonne, dirigiu documentários premiados, como Além dos sonhos, RIO de olhares únicos, Whiteout, A montanha do mar, entre outros. Atualmente dirige a sua editora/produtora Bambalaio e atua como consultor de comunicação para a ONU, em Genebra.